sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ronaldo acende debate sobre hipotireoidismo

Ronaldo acende debate sobre hipotireoidismo



15 de fevereiro de 2011
postado por Cinthya Leite






Ao lado do filho Alex, Ronaldo disse que convive com hipotireoidismo (Fifa.com)


Antes de começar a ler este post, desarme-se de qualquer ideia que relacione o hipotireoidismo a um bicho de sete cabeças. Como vocês sabem, o atacante Ronaldo, eleito o Jogador do Ano da Fifa em três temporadas (1996, 1997 e 2002) e conhecido como Fenômeno por suas arrancadas excepcionais, afirmou ontem (14/2), em entrevista de despedida dos gramados, que convive com hipotireoidismo.


A disfunção, vale explicar, é caracterizada pela falta de atividade da tireoide, glândula pequenina situada no pescoço e que pesa não mais que 30 gramas. Porém, ela exerce uma baita influência no funcionamento de todo o organismo. É como se a tireoide atuasse como a maestrina de uma orquestra superimportante. Afinal, essa glândula mal começa a desandar e os órgãos saem do tom. Tanto descompasso é causado pela alteração no TSH, que é o hormônio que estimula a tireoide.


No depoimento em que anunciou o fim da carreira aos 34 anos (destes, 19 de carreira), Ronaldo revelou que, há quatro anos, no Milan, descobriu ser portador do hipotireoidismo. Disse ele que, para controlar o distúrbio, teria que tomar alguns hormônios, que no futebol seriam configurados como doping.


Ao conversar com o profissional de educação física Manoel Costa, ph.D. em ciências do desporto e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), soube que o uso de levotiroxina (princípio ativo da medicação usada para o tratamento da disfunção) em dosagens recomendadas, por pacientes diagnosticados com hipotireoidismo, não é uma condição que possa ser considerada doping.


“Se o atleta tem o distúrbio e precisa fazer realmente uso da medicação para tratar a disfunção da tireoide, ele pode seguir o tratamento e, por questão de segurança, até solicitar autorização à comissão esportiva do Comitê Olímpico Brasileiro. Dessa maneira, tem liberação para competir”, explica Manoel Costa. O depoimento do especialista condiz com a publicação Informações sobre o uso de medicamentos no esporte (2010), do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).


Segundo o material, de 45 páginas, “considera-se como doping a utilização de substâncias ou métodos capazes de aumentar artificialmente o desempenho esportivo, sejam eles potencialmente prejudiciais à saúde do atleta ou a de seus adversários, ou contrário ao espírito do jogo. Quando duas destas três condições estão presentes, pode-se caracterizar um caso de doping, de acordo com o Código da Agência Mundial Antidoping (AMA)”.


Quem toma os comprimidos para controlar a função da tireoide segue uma terapêutica por questão de saúde, concordam?!? Assim, acredito que, no caso de pacientes que realmente precisam da levotiroxina para controlar o hipotireoidismo, seria até injusto a medicação entrar no rol das substâncias proibidas relacionadas na lista de substâncias e métodos proibidos da Agência Mundial Antidoping (AMA).






Segundo Gustavo Caldas, o tratamento do hipotireoidismo é seguro e simples. Para isso, é necessário um diagnóstico preciso (Foto: Divulgação / SBEM)


Sobre esse assunto, conversei também com outro profissional da área da medicina esportiva, que solicitou não ser identificado porque o cargo não permite. Segundo ele, o atleta com hipotireoidismo em tratamento não se encontra num critério para deixar o treinamento e as competições de lado. “O problema aparece quando a prescrição do paciente com hipotireoidismo apresenta também substâncias que são proibidas, como diuréticos e esteroides”, informa o médico.


De acordo com o endocrinologista Gustavo Caldas, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinolgia/Regional Pernambuco (SBD/PE), a terapêutica do hipotireoidismo é uma das mais seguras e simples da especialidade. Inclusive, gestantes e bebês com o distúrbio fazem uso da levotiroxina.


Ou seja, não há mistério no tratamento dessa disfunção da tireoide. “O paciente passa por testes clínicos e se submete ao exame do TSH, feito através de uma amostra de sangue”, enfatiza o endócrino, que acrescenta: “Se o nível desse hormônio estiver irregular, já se suspeita de hipotireoidismo, que é uma doença comum e simples de tratar”.


Ele ainda chama atenção para o fato de muitas pessoas jogarem a culpa do excesso de peso no hipotireoidismo, já que o distúrbio deixa o metabolismo mais lento. “O ganho de peso que se tem por causa dessa disfunção da glândula não é muito grande. Assim, os níveis inadequados dos hormônios da tireoide, sozinhos, não justificam a obesidade”, salienta Gustavo Caldas.


Segundo o médico, quando o hipotireoidismo está muito avançado, a pessoa tende a ganhar cerca de cinco quilos no máximo. Mas com o tratamento, o peso volta ao normal, assim como todas as funções do organismo que estavam fora do compasso por causa da glândula que trabalhava lentamente. 


Acredite: foi assim comigo. Hoje, eu convivo normalmente com hipotireoidismo. Mas antes de ter o diagnóstico, há uns cinco anos, sentia um cansaço imenso e uma apatia fora do comum. Até achei que fosse depressão, mas o meu endocrinologista logo percebeu que minha glândula estava preguiçosa e comecei imediatamente o tratamento.


Para toda a vida, preciso tomar um comprimidinho de levotiroxina diariamente em jejum, o que já faz parte da rotina. Depois que comecei a tomá-lo, rapidinho os sinais desapareceram e nunca mais voltaram. Eis, então, uma prova de que os pacientes com hipo podem ter uma vida ativa, saudável, feliz e completamente normal.


SAIBA MAIS


- O tratamento do hipotireoidismo é feito com o uso diário de levotiroxina, na quantidade prescrita pelo médico. E os comprimidos são em microgramas, variando de 25 a 200, e não em miligramas como a maioria dos medicamentos. Por isso, a levotiroxina não deve ser feita por manipulação, pois a chance de erro é grande


- Para reproduzir o funcionamento normal da tireoide, a levotiroxina deve ser tomada diariamente, em jejum (no mínimo meia hora antes do café da manhã), para que a ingestão de alimentos não diminua a absorção da substância pelo intestino


- Se o hipotireoidismo não for corretamente tratado, pode acarretar redução da performance física e mental do adulto, além de elevar os níveis de colesterol, que aumentam as chances de problemas cardíacos


- Depressão, desaceleração dos batimentos cardíacos, intestino preso, menstruação irregular, falhas de memória, cansaço excessivo, dores musculares, pele seca, queda de cabelo, ganho leve de peso e aumento de colesterol no sangue estão entre os sintomas do hipotieroidismo


- Não se deve confundir hipotireoidismo com hipertireoidismo, pois as disfunções são opostas: enquanto no hipo existe diminuição da produção de hormônios, há aumento no hiper


- Se você desconfia de qualquer problema na tireoide, procure um endocrinologista e não recorra à automedicação


- Leia sobre o assunto: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e Mulher sem falta






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